Sonhos de Lua Vermelha
Capítulo 2: A Primeira Mordida
Elena não dormiu naquela noite. O uivo do vento contra a sua janela no Queens parecia um eco persistente do que ouvira no escritório, um lamento que se infiltrava nos seus sonhos como fumaça. Ela se revirou entre lençóis emaranhados, o rosto de Damian Blackwood gravado em sua mente como uma marca de fogo. Aqueles olhos âmbar, aquela mão na sua cintura — firme, possessiva, como se soubesse exatamente onde pressionar para desarmá-la. Ela se sentou na cama, o relógio marcando três da manhã, e pegou o telefone. Nenhuma mensagem, apenas o brilho frio da tela lembrando-lhe que o mundo real não incluía homens como ele. Ou, pelo menos, não para alguém como ela.
Ao amanhecer, com olheiras que o corretivo mal disfarçava, Elena se arrastou de volta à Apex Publishing. O metrô a balançava como um berço instável e, enquanto checava anotações na bolsa, sua mente divagava. Aquele toque no elevador tinha sido real? Ou apenas o cansaço amplificando um flerte inocente? Ela sacudiu a cabeça, focando no dia que tinha pela frente. A reunião com Blackwood. Marcus a havia mencionado em sua mensagem, mas não havia detalhes. Provavelmente, outra sessão de brainstorm para o lançamento, com Damian observando das sombras como um rei indiferente.
O escritório fervilhava de atividade quando ela chegou. Telefones tocando, impressoras cuspindo páginas e o aroma de espresso fresco cortando o ar estéril. Elena se instalou em seu cubículo, abrindo o manuscrito de Sussurros Eternos para uma revisão final. Mas antes que pudesse mergulhar, seu telefone vibrou com um e-mail interno. Remetente: D. Blackwood. Assunto: Jantar de trabalho.
O coração de Elena disparou. Ela leu a mensagem duas vezes, as palavras dançando diante de seus olhos: «Elena, Sua perspectiva na reunião de ontem à noite foi revigorante. Gostaria de discutir ideias para a campanha em um ambiente menos… corporativo. Jantar esta noite, 20h, na minha cobertura (pent-house). Endereço em anexo. Traga seu instinto para histórias que prendem. Damian»
Anexo: um link para um mapa do Google, apontando para um prédio no Upper East Side que Elena reconheceu de revistas de arquitetura. Um jantar de negócios? Parecia desculpa, mas quem era ela para questionar o chefe? Seu polegar pairou sobre «Responder», mas ela finalmente digitou um simples «Aceito. Obrigada pela oportunidade.» Apertou Enviar antes que o pânico a detivesse.
O dia se arrastou como melaço. Reuniões com Marcus, que tagarelava sobre métricas de vendas sem notar sua distração; ligações com autores que exigiam mudanças impossíveis; e um almoço rápido de salada na mesa, onde Lila, sua melhor amiga e colega, se jogou na cadeira vizinha com um sanduíche de atum.
«O que houve, garota? Você parece um zumbi romântico,» brincou Lila, seus olhos escuros faiscando de curiosidade. Aos vinte e nove, Lila era o contraponto perfeito de Elena: extrovertida, com cabelo cacheado que desafiava a gravidade e uma risada que preenchia salas. Elas tinham sido colegas de quarto na universidade, compartilhando confidências sobre garotos e sonhos até que a vida as separou em cubículos adjacentes.
Elena forçou um sorriso, espetando uma folha de alface. «Apenas o estresse do lançamento. E… um jantar com Blackwood hoje à noite.»
Lila deixou o sanduíche cair, os olhos arregalados. «Blackwood? O deus grego dos ternos caros? Meu Deus! É um encontro ou uma demissão disfarçada?»
«Negócios,» insistiu Elena, embora sua voz traísse a dúvida. «Ele quer ideias para a campanha.»
«Claro, e eu sou a Rainha da Inglaterra.» Lila se inclinou, baixando a voz para um sussurro conspiratório. «Escuta, Elena: Damian Blackwood não convida editoras júnior para ‘jantares de negócios’. Esse homem é um enigma. Dizem que a fortuna dele vem de negócios que ninguém entende, como se ele tivesse faro para o ouro. E aqueles olhares… uau. Se ele te beijar, prometa-me detalhes picantes.»
Elena riu, um som genuíno que aliviou o nó em seu estômago. «Ele não vai me beijar. Ele é meu chefe.»
«Famosas últimas palavras.» Lila piscou e se levantou, deixando um rastro de migalhas. «Use algo vermelho. Vermelho grita ‘sou perigosa’.»
O resto do dia foi um borrão. Elena revisou e-mails, anotou ideias para teasers românticos — frases como «Um toque que acorda feras» que agora pareciam pessoais demais — e, às sete, esgueirou-se até o banheiro para um retoque rápido. Optou por um vestido preto justo que Lila lhe havia emprestado uma vez, com um decote sutil que acentuava sua silhueta curvilínea. Batom vermelho, seguindo o conselho da amiga. «Por via das dúvidas,» murmurou para o espelho, ignorando o nervosismo em seu peito.
O táxi a deixou em frente ao prédio: um monólito de obsidiana e cristal que se erguia como um dedo acusador em direção às estrelas. O porteiro, uniformizado em preto impecável, a escaneou com um sorriso profissional antes de guiá-la ao elevador privado. Ela subiu em silêncio, o zumbido da máquina um contraponto ao seu pulso acelerado. Quando as portas se abriram, não era um escritório nem um restaurante: era uma cobertura que gritava opulência discreta. Paredes de vidro do chão ao teto ofereciam uma vista panorâmica da cidade, luzes tremeluzindo como estrelas caídas. Móveis de couro escuro, arte abstrata em tons avermelhados e, no centro, uma mesa para dois posta com louças de porcelana e velas bruxuleantes.
Damian estava em pé ao lado do balcão de granito, servindo vinho de uma garrafa que provavelmente custava mais que o aluguel dela. Ele vestia uma camisa branca com as mangas arregaçadas, revelando antebraços musculosos que sugeriam horas em academias privadas — ou algo mais selvagem. Seu cabelo estava levemente bagunçado, como se tivesse passado os dedos por ele em antecipação.
«Elena,» ele disse, sua voz a envolvendo como um carinho. Cruzou a sala em três passos largos, estendendo uma taça. «Fico feliz que tenha vindo. Vinho tinto? É um Malbec argentino, para honrar suas raízes.»
Ela pegou a taça, seus dedos roçando os dele em um contato elétrico que a fez prender a respiração. «Obrigada. E sim, Malbec. Me lembra os jantares de família no México.» Ela se sentou quando ele indicou, o vestido sussurrando contra sua pele. A mesa estava impecável: salada de beterraba e queijo de cabra, filé com ervas e a sobremesa ainda oculta.
«Fale-me do México,» pediu Damian, sentando-se à sua frente. Seus olhos âmbar capturavam a luz das velas, dançando como fogo líquido. «Por que a curiosidade? Pesquisa para a campanha?»
Ele sorriu, aquela curva lupina que não chegava totalmente aos seus olhos. «Talvez. Ou talvez eu só queira conhecê-la para além das propostas de manuscritos.»
O jantar fluiu como o vinho: fácil, inebriante. Eles falaram de ambição — como Elena havia subido de estagiária a editora, devorando livros como combustível para seu fogo interior. Damian compartilhou fragmentos de sua ascensão: órfão aos dezoito, construindo a Blackwood Enterprises de um pequeno fundo de investimento a um império de arranha-céus e portfólios globais. «A solidão é o preço do poder,» ele admitiu, sua voz baixando um tom. «Você constrói muros altos, mas às vezes… você anseia que alguém os escale.»
Elena sentiu um aperto no peito, um eco de sua própria vida: noites sozinha no Queens, sonhando com um amor que não exigisse sacrifícios. «Eu escalo muros todos os dias,» ela replicou, sustentando o olhar dele. «Mas às vezes, me pergunto se do outro lado há um vazio maior.»
O silêncio que se seguiu foi carregado, o ar entre eles crepitando com o não dito. Damian se levantou, estendendo a mão. «Venha. Há algo que quero lhe mostrar.»
Ele a guiou até uma varanda envidraçada, onde a cidade se estendia como um reino conquistado. O vento de novembro sussurrava pelas frestas, trazendo um frio que arrepiava a pele. Elena se apoiou no parapeito, o vinho zumbindo em suas veias. «É impressionante,» ela murmurou. «Daqui, tudo parece… controlável.»
Damian se colocou ao lado dela, tão perto que seu calor a envolvia como um escudo. «Controlável, sim. Mas as sombras sempre espreitam lá embaixo.» Sua mão roçou a dela no parapeito, um toque casual que não era. Elena não se afastou; em vez disso, virou a palma para cima, entrelaçando seus dedos. O pulso dele era forte, constante, como um tambor primal.
«Que sombras, Damian?» ela perguntou, a voz um sussurro. O mundo se reduziu àquele ponto de contato: pele contra pele, calor contra frio.
Ele se virou para ela, o rosto iluminado pela lua crescente que surgia entre as nuvens. «As que nos definem. As que nos tornam humanos… ou algo mais.» Sua mão livre subiu à bochecha dela, o polegar traçando a linha de sua mandíbula com uma ternura que contrastava com sua força. Elena prendeu a respiração, o desejo florescendo como uma chama em seu ventre. Ela queria recuar, preservar a distância profissional; mas seu corpo a traía, inclinando-se para ele.
O beijo veio como um trovão silencioso. Damian inclinou a cabeça, capturando seus lábios com uma urgência contida que a deixou sem ar. Não foi suave; foi faminto, seus lábios a reivindicando com uma posse que a fez gemer contra sua boca. Suas mãos — meu Deus, aquelas mãos — deslizaram para sua cintura, puxando-a contra seu peito duro como carvalho. Elena se afundou nele, seus dedos se enredando em seu cabelo, puxando levemente para aprofundar o beijo. Tinha gosto de vinho e de algo selvagem, terroso, como se ela beijasse o coração de uma floresta proibida.
O mundo se desvaneceu: a cidade, o frio, as dúvidas. Só existiam suas línguas dançando, o roçar de sua barba por fazer contra sua pele sensível e aquela força em seus braços — imensa, quase sobre-humana — que a segurava como se ela não pesasse nada. Elena sentiu um calor líquido se espalhar pelo seu corpo, um anseio que a fazia se curvar contra ele, buscando mais. As mãos dele exploraram: descendo por suas costas, parando na curva de seus quadris, um toque que a deixou tremendo de antecipação.
Mas então, Damian se afastou, rompendo o beijo com um rosnado baixo que vibrou em seu peito. Seus olhos âmbar ardiam, dilatados como os de um predador na caça. «Elena…» Sua voz era rouca, carregada de uma fome que a aterrorizava e excitava em partes iguais. Ele a puxou novamente, desta vez beijando seu pescoço, seus lábios roçando a pulsação acelerada em sua garganta. Ela ofegou, as unhas cravando-se em seus ombros, sentindo músculos que se tensionavam sob a camisa como cabos de aço.
«Não pare,» ela sussurrou, a razão afogada na torrente de desejo. Suas mãos desceram ao peito dele, sentindo o bater feroz sob sua palma. Damian respondeu com um beijo mais profundo em sua clavícula, seu hálito quente contra sua pele, e por um instante, Elena jurou ter ouvido um grunhido — baixo, animal — escapando de sua garganta.
O vento rodopiou ao redor deles, trazendo um arrepio que quebrou o feitiço. Damian levantou a cabeça, sua expressão uma máscara de controle fraturado. «Devemos parar,» ele murmurou, embora suas mãos não a soltassem. «Isto… complica as coisas.»
Elena o encarou, os lábios inchados, o corpo zumbindo como um fio vivo. «Talvez as coisas precisem se complicar.» Mas no fundo, uma vozinha da sanidade sussurrava avisos: ele era seu chefe, um mundo à parte, e aquele beijo havia despertado algo nela que ela não conseguia nomear.
Eles voltaram para dentro em silêncio, a sobremesa esquecida na mesa. Damian a acompanhou até o elevador, sua presença um ímã que a atraía de volta. «Isto não termina aqui,» ele disse, apertando o botão para o lobby. Seus dedos roçaram os dela uma última vez, um toque que a deixou tremendo.
«Boa noite, Damian,» ela respondeu, o elevador se fechando como uma barreira frágil.
A viagem de volta ao Queens foi um turbilhão de sensações: o fantasma dos lábios dele nos seus, o calor persistente em sua pele e um anseio surdo que a manteve acordada até o amanhecer. Ela desabou na cama, exausta, mas eletrizada, perguntando-se se havia cruzado uma linha ou encontrado uma porta.
No dia seguinte, o sol filtrando-se pelas cortinas sujas de seu apartamento a tirou de um sono agitado. Elena se levantou, o corpo dolorido como depois de uma corrida, e se preparou para mais um dia na Apex. O metrô a levou de volta ao arranha-céus, onde a rotina a envolveu como um colete de força. Ela checou e-mails, coordenou com a equipe de marketing e evitou o cubículo de Lila, temendo seu radar infalível.
Foi durante o almoço, sentada na lanchonete do andar de baixo com um sanduíche pela metade, que ela o encontrou. Procurava as chaves na bolsa — sempre perdidas no caos de recibos e canetas — quando seus dedos roçaram algo macio, estranho. Ela puxou um tufo de pelo cinza, longo e espesso, como de um lobo selvagem. Não era de gato nem de cachorro; era áspero demais, com um brilho prateado que capturava a luz.
Elena o encarou, o estômago revirando. De onde diabos…?
Ela se lembrou do elevador, da varanda, do vento. Teria se prendido em suas roupas? Ou…? Ela balançou a cabeça, colocando-o de volta na bolsa como se queimasse. Ridículo. Mas antes que pudesse descartar o pensamento, seu telefone vibrou com uma mensagem de um número desconhecido.
«Ele não é o que parece. Fuja antes que ele a marque.»
O mundo se inclinou. Elena olhou em volta na lanchonete lotada, buscando rostos conhecidos, mas só viu colegas absortos em suas telas. Uma piada? Alguém da equipe brincando? Mas o tufo em sua bolsa parecia palpitar com vida própria, uma lembrança peluda de que a noite anterior havia sido mais do que um beijo. Muito mais.
Capítulo 3: Segredos Sob a Lua
Elena olhou para o tufo de pelo cinza na palma da mão como se fosse uma cobra venenosa, pronta para morder. O sanduíche esquecido esfriava em seu prato, e a lanchonete da Apex Publishing pareceu, de repente, barulhenta demais: risadas forçadas de colegas, o tinido de colheres contra xícaras, o zumbido constante de conversas que não chegavam aos seus ouvidos. De onde aquilo tinha saído? Sua bolsa era um caos organizado — notas amassadas, um pacote de chicletes, chaves que sempre sumiam —, mas nada que explicasse um pedaço de pelo que parecia arrancado de um animal selvagem. Ela o apertou entre os dedos, sentindo sua textura áspera, quase viva, e um arrepio percorreu sua espinha.
A mensagem em seu telefone ardia como uma brasa: «Ele não é o que parece. Fuja antes que ele a marque.» Número desconhecido, sem assinatura, sem contexto. Elena o apagou com o polegar trêmulo, mas as palavras fincaram-se em sua mente como espinhos. Uma piada cruel de alguém do escritório? Lila, com seu senso de humor distorcido? Não, Lila não brincaria com algo assim. E Damian… Deus, Damian. O beijo na varanda ainda queimava em seus lábios, um fantasma de calor que a mantivera acordada, revivendo cada toque, cada grunhido baixo que escapara de sua garganta. Tinha sido real, visceral, mas agora, sob a luz crua do meio-dia, parecia o prelúdio de um pesadelo.
Ela se levantou abruptamente, deixando o almoço pela metade, e seguiu para o banheiro feminino no andar de baixo. O espelho devolveu-lhe uma imagem pálida: olhos castanhos dilatados, lábios ainda inchados pela lembrança. Ela jogou água fria no rosto, tentando lavar a confusão. «Você está paranoica,» disse em voz alta, o eco rebatendo nos azulejos brancos. Mas o pelo em seu bolso pesava como uma acusação. Ela o tirou novamente, observando-o sob a luz fluorescente. Cinza prateado, com veios escuros que brilhavam como se capturassem a lua. Ridículo. Ela o enfiou no bolso da jaqueta e saiu, decidida a ignorá-lo.
O resto do dia foi uma batalha contra a distração. Marcus a chamou para uma reunião improvisada a fim de refinar a campanha de Sussurros Eternos, e Elena se obrigou a focar em teasers para redes: imagens de casais entrelaçados sob céus tempestuosos, legendas que prometiam «um amor que morde a alma». Irônico, pensou, enquanto digitava. Mas a cada pausa, sua mente voltava para a mensagem. No final da tarde, ela não conseguiu resistir mais. Abriu o navegador em seu computador de trabalho — contra as regras, mas quem a pegaria? — e buscou «Damian Blackwood maldição».
Os resultados foram uma torrente de fofocas disfarçadas de jornalismo: artigos de tablóides sobre o «enigma dos Blackwood», uma família que havia acumulado fortuna em imóveis desde o pós-guerra, mas com sombras. Uma postagem antiga em um blog de conspirações mencionava uma «maldição ancestral»: supostamente, os Blackwood descendiam de imigrantes irlandeses com «sangue lupino», uma superstição que explicava sua agressividade nos negócios e as mortes misteriosas na família. «O alfa sem parceira,» dizia uma manchete sensacionalista, «condenado à solidão até que a lua vermelha cobre seu preço.» Elena revirou os olhos, mas um nó se formou em seu estômago. Coincidência com o manuscrito que lera ontem à noite? Ou algo mais?
Ela fechou a janela, o coração batendo forte. Era bobagem. Pessoas entediadas inventando dramas para preencher o vazio. Mas o pelo… e a mensagem. Ela se levantou, juntando suas coisas antes que o pânico a paralisasse. Chuva torrencial açoitava as janelas quando ela saiu do prédio, o céu de Nova York transformado em um véu cinza que apagava os contornos da cidade. Ela não havia trazido guarda-chuva — nunca trazia, uma herança mexicana de acreditar que a chuva era bênção, não maldição. Correu em direção à estação de metrô, a água encharcando sua jaqueta, transformando o asfalto em um rio traiçoeiro.
O trânsito era um caos: carros buzinando, pedestres esbarrando sob o dilúvio. Elena se abrigou sob um toldo improvisado de uma delicatessen, mas o vento açoitava-a sem piedade. Seu telefone vibrou no bolso — outra mensagem do número desconhecido: «A marca já está em você. Corra.» O medo a atingiu como um soco e, sem pensar, ela disparou para a rua, ziguezagueando entre poças. Um táxi amarelo surgiu da névoa como um predador, faróis cortando a chuva, e Elena congelou, o tempo desacelerando. A buzina uivou, mas seus pés escorregaram no pavimento molhado, lançando-a para a frente em uma queda inevitável.
Um braço a envolveu pela cintura, puxando-a para trás com uma força que a deixou sem fôlego. O táxi passou raspando, espirrando água suja, e Elena aterrissou contra um peito sólido, encharcado, mas inabalável. Damian. Seus olhos âmbar brilhavam na penumbra, o cabelo colado à testa como um capacete de batalha. «Você está bem?» ele rugiu acima do estrondo da chuva, sua voz cortando o caos como uma faca.
Ela assentiu, ofegando, o corpo tremendo não apenas por causa do frio. «Damian… o que você está fazendo aqui?»
«Eu a vi da janela do escritório. Você parecia uma louca na tempestade.» Ele a puxou para mais perto, seu casaco — uma capa de chuva preta que cheirava a couro e tempestade — envolvendo-a como um casulo. Sem soltá-la, ele a guiou até um carro preto reluzente estacionado na beira da calçada, um Mercedes que parecia imune ao dilúvio. O motorista abriu a porta com discrição, e Damian a ajudou a entrar, deslizando para o lado dela no banco de trás.
O interior era um oásis de luxo: couro quente, aquecimento que dissipava o frio como mágica, e um divisor opaco que separava o motorista do mundo de trás. Elena tirou a jaqueta encharcada, tremendo, e Damian tirou a sua, colocando-a sobre os ombros dela com uma gentileza que contrastava com sua expressão feroz. «Você está congelada,» ele murmurou, esfregando seus braços com mãos grandes, calejadas por algo mais do que assinaturas de contratos.
«Estou bem,» ela mentiu, mas sua voz saiu entrecortada. O calor dele a envolvia, sua proximidade um bálsamo contra o pânico residual. «Como você soube que era eu? A chuva…»
«Eu a reconheceria em uma tempestade de neve.» Seus olhos cravaram-se nos dela, âmbar puro agora, refletindo as luzes do painel. O carro se moveu suavemente, afastando-se do burburinho, mas Elena mal notou. O tufo de pelo queimava em seu bolso, a mensagem um eco em sua mente. «O que há de errado com você, Elena? Não é só a chuva.»
Ela hesitou, o peso da confissão apertando sua garganta. «Você já ouviu falar da maldição Blackwood?» As palavras saíram antes que ela pudesse impedi-las, roucas e acusadoras.
Damian enrijeceu, sua mão parando em seu braço. O silêncio se adensou, quebrado apenas pelo tamborilar da chuva no teto. «Fofocas de tablóides,» ele disse finalmente, sua voz baixa, controlada. «Pessoas que inventam monstros para explicar por que um homem sem família constrói impérios em vez de lares.»
«Mas a mensagem…» Elena pegou seu telefone, mostrando-lhe a tela — ela havia recuperado o apagado, por precaução. «E isto.» Ela extraiu o tufo de pelo, segurando-o entre eles como prova em um julgamento. «Apareceu na minha bolsa depois de… depois de ontem à noite.»
Os olhos de Damian escureceram, o âmbar se tornando tempestade. Ele pegou o tufo com delicadeza, seus dedos roçando os dela em um contato que enviou faíscas pela sua pele. Ele o examinou, cheirando-o sutilmente — um gesto que Elena notou, mas que atribuiu ao instinto protetor. «Isto não é uma brincadeira,» ele murmurou. «É um aviso.»
«De quem? Por quê?» Elena se inclinou para ele, o espaço entre eles carregado de eletricidade. O carro virava em ruas secundárias, afastando-se do centro, mas ela não perguntou para onde.
Damian guardou o pelo em seu bolso, sua expressão fechando-se como uma porta blindada. «Há pessoas que gostariam de me ver cair. Rivais nos negócios, sombras do passado. Mas você… você não deveria estar no meio.» A mão dele subiu à bochecha dela, limpando uma gota de chuva tardia com o polegar. «Sinto muito. Ontem à noite fui imprudente.»
«Não sinta,» ela sussurrou, cobrindo a mão dele com a sua. O desejo da noite anterior ressurgiu, um fogo lento que a chuva não tinha apagado. «Apenas me diga a verdade. O que eu sou para você? Uma distração? Ou algo mais?»
Ele a encarou, o peso de seus olhos como um carinho físico. «Você é… tudo o que eu não esperava.» Antes que ela pudesse responder, ele se inclinou, capturando seus lábios em um beijo que apagou o mundo exterior. Não foi a fome desesperada da varanda; foi profundo, exploratório, como se saboreasse cada canto de sua alma. Elena se rendeu, suas mãos se enredando em sua camisa úmida, sentindo os músculos tensos por baixo. O beijo se aprofundou, línguas dançando num ritmo que ecoava suas batidas cardíacas aceleradas.
O carro parou com um sussurro, e Damian se afastou ligeiramente, sua testa encostada na dela. «Meu refúgio,» ele disse, balançando a cabeça. Lá fora, a chuva caía sobre um edifício discreto nos arredores da cidade: não a cobertura opulenta, mas uma cabana moderna de madeira e pedra, cercada por pinheiros que balançavam como guardiões. «Aqui ninguém nos encontrará.»
Elena o seguiu para dentro, o interior um contraste quente: lareira crepitante, tapetes grossos e uma cama King size visível através de uma porta entreaberta. Damian fechou a porta, o clique ressoando como uma promessa. «Tire a roupa molhada,» ele ordenou suavemente, guiando-a para o banheiro anexo. Ela obedeceu, o vapor do chuveiro envolvendo-a como os braços imaginários dele. Ela saiu envolta em um roupão de algodão macio que ele havia deixado, o cabelo úmido caindo em ondas sobre seus ombros.
Damian a esperava perto do fogo, uma camisa seca e calças de moletom que não escondiam seu físico esculpido. «Venha,» ele disse, estendendo a mão. Sentaram-se no sofá de couro, o calor das chamas lambendo sua pele. Eles falaram em sussurros: de medos, de sonhos desfeitos, da solidão que os havia moldado. Elena confessou sua herança — a mãe que havia fugido de uma vila mexicana com segredos de bruxas e lobos — e Damian ouviu, seus olhos suavizando-se com uma empatia que a desarmava.
O fogo entre eles ardeu mais brilhante, um inferno devorador que consumia toda contenção. Damian a puxou para o seu colo com uma urgência primal, seus lábios reclamando os dela em um beijo que era puro incêndio: línguas entrelaçadas numa batalha feroz, dentes roçando com uma promessa de mordida, suas mãos — Deus, aquelas mãos — deslizando sob o roupão para se agarrarem à sua pele nua como garras envoltas em veludo. Elena ofegou contra a boca dele, um som gutural que escapou do mais profundo de seu ser, enquanto suas unhas afundavam em seus ombros, rasgando o tecido fino de sua camisa em um arroubo de necessidade crua. O ar se carregou com o aroma dele — terroso, selvagem, como uma floresta em chamas — e ela sentiu o corpo dele endurecer contra o dela, um pulso insistente que a fazia se curvar, esfregando-se com uma fricção deliberada que arrancou um rosnado baixo de sua garganta, um som animal que reverberou em seus ossos e acendeu uma torrente de calor líquido entre suas coxas.
«Não consigo mais me conter,» rugiu Damian, sua voz um trovão rouco que vibrou contra a pele dela, enquanto ele a levantava nos braços com uma facilidade sobre-humana, seus músculos flexionando-se como cordas tensas sob seu peso insignificante. Ele a levou para a cama como um conquistador reivindicando seu território, depositando-a sobre os lençóis amassados com uma reverência feroz que a deixou tremendo de antecipação. O roupão escorregou de seus ombros como uma oferenda, expondo seu corpo ao fogo de seu olhar — âmbar ardente, devorador — e ele se ajoelhou diante dela, beijando um caminho tortuoso desde o tornozelo até o interior de sua coxa, seus lábios e língua traçando padrões que a faziam convulsionar, curvando-se contra os lençóis num arco de puro êxtase agonizante. As mãos dele a seguravam com posse absoluta, dedos afundando na carne macia de seus quadris, guiando-a, dominando-a, enquanto seu hálito quente roçava a pele sensível de seu centro, um tormento requintado que a deixava à beira do abismo, implorando em sussurros entrecortados: «Por favor… Damian…».
Ele levantou o olhar, seus olhos repletos de uma fome ancestral que a aterrorizava e a inflamava em partes iguais, e ascendeu sobre ela como uma sombra viva, seu corpo cobrindo o dela numa união que era ao mesmo tempo proteção e ameaça. Seus beijos se tornaram vorazes, mordiscando a curva de seu pescoço com uma intensidade que beirava a dor prazerosa, deixando marcas vermelhas que palpitavam como batidas cardíacas compartilhadas. Elena se contorceu sob ele, suas pernas o envolvendo em um laço instintivo, puxando-o para mais perto enquanto suas mãos exploravam o mapa de seu torso: cicatrizes antigas que contavam histórias de batalhas furiosas, músculos que se contraíam sob seu toque como feras enjauladas. Quando ele a penetrou, foi com uma lentidão deliberada no início — um alongamento ardente, uma invasão que a preencheu até o limite, arrancando-lhe um gemido abafado que se fundiu com o rosnado primal dele — mas logo o ritmo se libertou em uma tempestade: estocadas profundas, implacáveis, que a cravavam no colchão com uma força que fazia a madeira ranger, seus quadris batendo contra os dela em um compasso frenético que sincronizava suas respirações ofegantes, seus corações trovejando como tambores de guerra.
O prazer acumulava-se como uma maré negra, um vórtice que a arrastava para a beira, e Elena se agarrou a ele, suas unhas deixando sulcos em suas costas enquanto o mundo se reduzia àquela união selvagem: o suor que os unia como cola, o roçar da barba dele contra seu peito sensível, o modo como seus olhos âmbar se cravavam nos dela, segurando-a naquele abismo compartilhado. «Minha,» ele rosnou contra a orelha dela, sua voz um rugido velado que vibrou através de seu corpo, acelerando o clímax que a atingiu como um relâmpago: uma explosão cegante de êxtase que a fez convulsionar em ondas incontroláveis, um grito escapando de seus lábios enquanto ele a seguia, sua libertação uma torrente feroz que a inundava, prolongando seu prazer em um laço eterno de fogo e sombras.
No pico do êxtase, com seus corpos ainda unidos num emaranhado suado e trêmulo, algo mudou. Os olhos de Damian dilataram-se, o âmbar se espalhando como tinta na água, e Elena viu — ou pensou ter visto — suas pupilas alongarem-se em fendas felinas. Seus lábios curvaram-se, revelando dentes que se afiaram por um instante, presas reluzentes sob a luz tênue. Um grunhido baixo escapou de sua garganta, não humano, mas animal, e sua pele pareceu ondular, músculos inchando sob a superfície como se uma fera lutasse para emergir.
Elena piscou, o coração martelando novamente, mas quando olhou de novo, ele era apenas Damian: olhos âmbar normais, sorriso satisfeito, corpo relaxado contra o dela. Alucinação? O êxtase pregando peças em sua mente? Mas o ar cheirava a algo selvagem — pelo molhado, terra revolvida — e em seu pescoço, onde ele havia mordido suavemente, uma marca sutil palpitava como um segredo revelado.
Capítulo 4: O Alfa Revelado
Elena jazia imóvel na cama, o corpo ainda zumbindo com os ecos do êxtase partilhado, como se as ondas de prazer se recusassem a dissipar-se. O ar do refúgio estava carregado de um silêncio pesado, quebrado apenas pelo crepitar ocasional da lareira e pela respiração entrecortada de Damian ao seu lado. Sua pele, orvalhada de suor, aderia aos lençóis revoltos, e em seu pescoço, onde os lábios dele haviam deixado uma marca sutil — um beijo que roçara o fio da mordida —, um pulso quente latejava como um segredo vivo. Mas era aquela imagem fugaz que a mantinha ancorada à realidade: os olhos dele dilatando-se como poços de âmbar líquido, os dentes se afiando em presas reluzentes, a ondulação de sua pele como se algo vasto e selvagem lutasse para romper a superfície.
Teria sido real? Ou o clímax tecera ilusões em sua mente, um truque cruel do desejo desenfreado? Elena virou a cabeça lentamente, encontrando o olhar de Damian. Ele a observava com uma intensidade que a desarmava, seus olhos agora num âmbar suave, quase humano, mas com partículas douradas que dançavam como brasas na penumbra. Seu peito subia e descia em um ritmo pausado, contrastando com o turbilhão no dela.
«O que foi aquilo?» sussurrou Elena, sua voz rouca, um fio de vulnerabilidade tingido de acusação. Estendeu uma mão trêmula em direção ao rosto dele, roçando a curva de sua mandíbula, onde a barba por fazer raspava como areia fina. «Seus olhos… seus dentes. Você parecia… não humano.»
Damian não se afastou; em vez disso, capturou seus dedos com os seus, beijando a ponta de cada um com uma ternura que a fez estremecer. «Eu não era,» ele admitiu, sua voz um murmúrio grave que reverberou no espaço entre eles. Ele se apoiou sobre um cotovelo, o músculo do seu braço flexionando-se como uma promessa de força contida, e o peso de sua confissão pareceu inclinar o ar em sua direção. «Não inteiramente. Elena, o que você viu… é parte de mim. A parte que mantive oculta por anos.»
Ela se sentou, arrastando o lençol até o peito como um escudo improvisado, embora soubesse que era inútil. O fogo projetava sombras dançantes nas paredes de madeira, transformando o quarto em um palco de mitos antigos. «Explique-se,» ela exigiu, seu tom firme apesar do nó na garganta. «Sem meias-verdades. O pelo, as mensagens, essa… transformação. O que você é, Damian?»
Ele soltou um suspiro longo, como se liberasse um peso que havia carregado sozinho por tempo demais. Levantou-se da cama com graça felina, nu e sem vergonha, sua silhueta recortada contra as chamas como uma estátua grega esculpida em obsidiana. Caminhou até a janela, onde a chuva havia cessado, deixando um céu chumbo salpicado de estrelas precoces. A lua, quase cheia, surgia entre nuvens dispersas, sua luz prateada filtrando-se como um dedo acusador.
«Sou um lobo,» ele disse simplesmente, virando-se para encará-la. Seus olhos capturaram o reflexo lunar, tornando-se etéreos, e Elena sentiu um puxão no peito, um eco instintivo que não conseguia nomear. «Não um lobisomem de contos de fadas, mas algo real, ancestral. Minha linhagem — os Blackwood — descende de clãs irlandeses que cruzaram o Atlântico fugindo de caçadores no século XVIII. Carregamos a maldição da lua: a cada ciclo, a fera desperta, e com ela, uma fome que não se sacia com dinheiro ou poder.»
Elena o encarou, sua mente um turbilhão de incredulidade e fascínio. «Lobo? Como… transformação completa? Garras, presas, uivos na noite?» As palavras soavam absurdas saindo de seus lábios, mas a lembrança daquela ondulação em sua pele as tornava reais. Ela se levantou, o lençol caindo em pregas ao redor do corpo, e se aproximou dele, tocando seu peito nu. Sob seus dedos, o coração de Damian batia forte, constante, como o rugido de um motor oculto.
«Não exatamente como nas lendas,» ele respondeu, cobrindo a mão dela com a sua, guiando-a sobre as cicatrizes que sulcavam seu torso — vestígios pálidos de garras e balas, lembranças de vidas passadas. «Somos híbridos: homens com a essência da matilha. A transformação é parcial em noites comuns, total apenas na lua cheia. Mas não é só físico, Elena. É um laço. Eu lidero a matilha Silverfang: uma família de lobos dispersos pela cidade, camuflados como executivos, artistas, guardiões. Eu sou o alfa. Meu papel é protegê-los, guiá-los, mas também… isolar-me.»
«Isolar-se? Por quê?» Elena se aproximou mais, seu corpo ainda sensível ao dele, o calor residual de sua união atiçando faíscas em seu ventre. A lua os banhava em prata e, por um instante, ela jurou ver um brilho sutil em sua pele, como se ele absorvesse a luz.
Damian desviou o olhar, sua mandíbula se enrijecendo. «Porque o alfa sem parceira é vulnerável. Há uma profecia antiga, gravada em pedras que trouxeram da Irlanda: ‘Sob a lua vermelha — o eclipse que pinta o céu de sangue — o alfa encontrará sua lua destinada, aquela que portará a marca do destino. Mas o traidor espreitará, e a união deles forjará correntes ou quebrará o mundo’.» Sua voz endureceu no final, um fio de amargura cortando o ar. «Evitei parceiras por medo. A última… minha noiva, foi assassinada por um rival que viu nela a profecia. Desde então, construo impérios para me distrair, mas a solidão é um vazio que devora.»
Elena sentiu uma pontada no peito, um eco de sua própria orfandade — a mãe perdida no México, o pai ausente. «E eu… o que eu tenho a ver com isso?» Seus dedos traçaram uma cicatriz em seu ombro, um gesto íntimo que o fez estremecer.
Damian se virou para ela, suas mãos emoldurando o rosto dela com uma urgência que a deixou sem fôlego. «Tudo. Desde que a vi naquela reunião, senti o puxão. A profecia fala de uma marca: uma pinta ou uma cicatriz que brilha sob a lua. Eu não a procurei em você, mas ontem à noite, quando a reivindiquei…» Ele baixou o olhar para o pescoço dela, onde a marca de seu beijo palpitava, agora visível como um símbolo etéreo — uma meia-lua prateada, sutil, mas inegável. «Está aqui. Você é minha lua destinada, Elena. E isso nos coloca em perigo.»
O mundo se inclinou. Elena tocou a pinta, sentindo sua calidez sobrenatural, e uma torrente de memórias a assaltou: sonhos de infância de uivos na noite mexicana, o aviso de sua mãe sobre «sangue que chama o sangue». «Eu? Uma loba? Minha mãe falava de bruxas e sombras, mas pensei que fossem contos para me assustar.» Uma risada nervosa escapou de seus lábios, mas Damian a silenciou com um beijo — suave no início, depois profundo, uma âncora na tempestade de revelações.
«Seu sangue é a chave,» ele murmurou contra os lábios dela, suas mãos deslizando por suas costas, puxando-a contra seu corpo nu. «Mas eu não a temo. Eu a desejo. Mais do que tudo.» A lua subiu mais alto, sua luz inundando o quarto, e Damian a levantou nos braços, levando-a de volta para a cama com uma ferocidade renovada. «Deixe-me mostrar-lhe o ritual. A marcação parcial: um laço que nos une sem completá-lo, até que você esteja pronta.»
Elena não protestou; o medo se transmutava em uma fome voraz, um instinto que respondia ao dele. A lua cheia os envolveu como um véu prateado, amplificando cada sensação: o roçar de suas peles como fogo líquido, o hálito dele contra sua orelha um sussurro que arrepiava cada pelo. Damian a depositou nos lençóis, seus olhos âmbar brilhando com um fulgor lunar, e desceu sobre ela como um predador divino. Seus beijos traçaram um mapa de adoração — desde a marca em seu pescoço, que ele lambeu com uma língua que ardia como mel quente, até a curva de seus seios, onde mordiscou com dentes que roçavam o limite da dor, enviando descargas de prazer que a faziam arquear-se, gemendo o nome dele como um feitiço.
«Sinta-me,» ele grunhiu, sua voz um rugido velado que vibrou através do corpo dela, enquanto suas mãos — fortes, implacáveis — separavam suas coxas, explorando com dedos que conheciam cada segredo, curvando-se em seu interior com uma precisão que a fazia convulsionar, o calor acumulando-se como uma tempestade iminente. Elena agarrou-se a ele, suas unhas deixando sulcos vermelhos em suas costas, um mapa de posse recíproca, enquanto a boca dele descia mais, devorando-a com lábios e língua em um assalto que era ao mesmo tempo ternura e tempestade: sucções profundas que a levavam ao limite, dentes roçando a pele sensível interna de suas coxas, um tormento requintado que a fazia suplicar, contorcendo-se nos lençóis como uma oferenda viva.
Quando ele a penetrou, foi com uma intensidade que beirava o sobrenatural: um alongamento ardente que a preencheu até o limiar do êxtase, suas estocadas um ritmo lunar — lento e profundo no início, como o fluxo das marés, depois acelerando em um frenesi selvagem que fazia a cama ranger, seus quadris batendo contra os dela com uma força que a cravava no colchão, cada investida uma reivindicação primal que sincronizava seus gemidos num coro gutural. A marca em seu pescoço brilhou mais forte, um pulso compartilhado que amplificava o prazer, fazendo com que seus nervos cantassem em um crescendo imparável. Damian a virou com facilidade, tomando-a por trás em uma união que era dominação absoluta: uma mão em seu quadril, a outra enredada em seu cabelo, puxando levemente para arquear suas costas, enquanto seus movimentos se tornavam ferozes, animais, uma dança de feras sob a lua que a levava ao abismo uma e outra vez, orgasmos encadeados que a deixavam tremendo, gritando o nome dele em um êxtase que apagava o mundo.
No pico de sua união, com seus corpos fundidos em um nó suado e ofegante, Damian inclinou a cabeça para seu pescoço, suas presas — agora visíveis, afiadas como punhais de marfim — roçando a marca profetizada. «O ritual,» ele ofegou contra a pele dela, sua voz um grunhido rouco que vibrou em seus ossos. Ele mordeu então — não para ferir, mas para unir — uma picada requintada que liberou uma torrente de prazer partilhado, o sangue deles misturando-se num laço etéreo que os fez convulsionar juntos em um clímax final, cegante, eterno, como se a própria lua os abençoasse com seu fogo prateado.
Esgotados, colapsaram num emaranhado de membros, a marca agora uma tatuagem luminosa que palpitava em sincronia com seus corações. «Você está segura comigo,» murmurou Damian, beijando a ferida que se fechava sozinha, sua língua lambendo o rastro de sangue com uma reverência que a comoveu. Elena se aninhou contra ele, o esgotamento envolvendo-a como um cobertor, o romance florescendo naquela vulnerabilidade compartilhada. Pela primeira vez, sentiu-se completa — não quebrada, não sozinha —, ligada a ele por algo mais profundo do que o desejo: um destino lunar que os reivindicava.
Mas o idílio se quebrou como vidro sob um martelo. O vento uivou lá fora, um lamento que se fundiu ao estalar de galhos, e então — um golpe surdo contra a porta, como o punho de um gigante enfurecido. A madeira gemeu sob o impacto, estilhaçando-se numa fenda que se estendeu como uma veia rompida. Elena se sentou de repente, o coração trovejava em seus ouvidos, enquanto Damian se enrijecia ao lado dela, seus olhos âmbar dilatando-se em alerta primal. «Fique para trás,» ele sibilou, sua voz um fio de aço, pondo-se de pé em um movimento fluido, nu e letal, interpondo-se entre ela e a entrada.
A porta explodiu para dentro em uma chuva de lascas e metal retorcido, e Victor Kane irrompeu como um vendaval de ódio encarnado. Sua silhueta alta e esguia recortava-se contra a noite, o terno impecável agora rasgado e salpicado de lama, como se tivesse cruzado a floresta numa corrida frenética. Em sua mão direita, um revólver prateado brilhava com malícia lunar, o cano apontando diretamente para o coração exposto de Damian. Seus olhos cinzentos — frios como gelo quebrado — varreram o quarto, parando na marca luminosa do pescoço de Elena com um brilho de triunfo sádico que a gelou até os ossos.
«Maldito traidor!» cuspiu Victor, sua voz um veneno que gotejava como ácido, avançando com passos deliberados que rangiam sobre os restos da porta. A arma não tremia; seu dedo roçava o gatilho com uma promessa de violência iminente. «Eu a avisei, alfa! Envolver-se com esta… humana? Marcá-la como se fosse digna da profecia?» Seu olhar cravou-se em Elena, um predador avaliando sua presa, e ela encolheu-se contra a cabeceira da cama, o lençol agarrado como um talismã inútil, o pulso da marca agora um tambor de pânico que ressoava em suas veias. «Mas olhe para ela… ah, sim. Essa meia-lua na pele dela, brilhando como um sinal divino. É você, cadela. A lua destinada que o destino me entrega de bandeja. Aquela que quebrará seu reinado… ou a que eu destruirei primeiro.»
Damian se interpôs completamente, seu corpo uma muralha de músculo tenso e fúria contida, as presas despontando numa ameaça velada que fez o ar crepitar. «Victor, isso termina aqui,» ele rugiu, sua voz se transformando em um trovão gutural que fez as paredes vibrarem, os olhos âmbar acesos com um fulgor vermelho que prometia sangue. «Saia do meu território, ou eu arrancarei a traição de sua garganta com minhas próprias garras. A profecia não é sua para distorcer.»
Victor riu — um som quebrado, histérico, que arrepiou cada pelo na pele de Elena —, mas não baixou a arma. Em vez disso, a girou lentamente em direção a ela, o cano preto um olho cego que a perfurava a três metros de distância. «Escolha agora, Blackwood! Sua preciosa lua… ou seu legado podre. A lua vermelha sangra em três noites — o eclipse que pintará o céu de vermelho eterno. E com ele, minha ascensão. Mate a humana, ou a matilha cairá em chamas. Eu a liderarei, e seu império — esses arranha-céus que você tanto ama — será o primeiro altar onde queimarei seu nome.»
O dedo de Victor curvou-se no gatilho, um movimento inexorável, lento como a própria morte, e Elena viu o brilho do metal — o cano dilatando-se, o ar se carregando de ozônio e promessas quebradas. Damian rugiu, lançando-se para a frente em um borrão de movimento sobre-humano, mas o tempo se esticou em agonia: o clique do martelo ao cair, o recuo iminente, o cano cuspindo fogo em direção ao seu peito exposto…